​Kurt Schneider (1887-1967) foi uma figura central na psiquiatria do século XX, cuja obra moldou significativamente a prática clínica contemporânea. Formado sob a influência de nomes como Robert Gaupp e Gustav Aschaffenburg, e inspirado pela filosofia de Max Scheler, Schneider combinou rigor clínico com a sistematização minimalista dos estados mentais alterados. Conhecido por suas contribuições à classificação das "personalidades psicopáticas" e à compreensão das psicoses endógenas, ele também é frequentemente associado à tradição de Karl Jaspers, sendo responsável por atualizações na Psicopatologia Geral. Contudo, sua recepção permanece ambígua: ao mesmo tempo em que é reconhecido como um clínico atento e inovador, sua obra também é vista como precursora da virada criteriológico-operacional dos anos 1970, frequentemente criticado pelo consequente empobrecimento psicopatológico nas décadas seguintes. Recentemente, artigos como o de Moritz e colaboradores (2024) na Schizophrenia Bulletin revisitam suas concepções e a partir de tais debates, emerge a provocação de se pensar a obra de Kurt Schneider a partir de uma perspectiva fenômeno-estrutural, considerando os limites e possibilidades de sua obra frente à complexidade da experiência subjetiva. Este será o foco de nosso grupo de estudos: revisitar sua obra seminal – Psicopatologia Clínica - à luz de novas leituras e discutir suas interfaces com abordagens contemporâneas.